Depressão - sintomas, diagnóstico, tratamento, autoajuda

DocFinder, Shutterstock
DocFinder, Shutterstock

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de depressão. Na Áustria, entre 10 e 25% da população é afetada pela depressão, pelo menos, uma vez na vida. Os números precisos são difíceis de determinar – pois nem toda a depressão é reconhecida e tratada como tal. Leia aqui como a depressão se manifesta, como se distingue mau humor de uma depressão e como é que a depressão é tratada hoje em dia.

Sintomas da depressão

Na psiquiatria, a depressão faz parte dos chamados transtornos afetivos. Os transtornos afetivos, também chamados de distúrbios do estado de espírito designam um grupo de distúrbios psicológicos que se caracterizam, entre outros, por uma alteração clínica relevante na duração do humor. A depressão é uma doença mental que se faz acompanhar por apatia, estado de espírito depressivo, falta de interesse e alegria, prazer limitado e desempenho limitado. Em comparação com pessoas que não sofram de depressão, estes sintomas são muito mais intensos e permanentes em pessoas deprimidas e são menos influentes do que em pessoas sem depressão. Além disso, a depressão pode estar associada a uma série de queixas físicas, incluindo dor de cabeça, dor nas costas, constipação, distúrbios a nível da circulação ou sensação de pressão no peito. Uma sensação reduzida de prazer, bem como alterações no apetite e mudanças de peso correspondentes podem ocorrer na depressão.

Causas da depressão

As causas da depressão são tão diversas quanto os sintomas que tornam a doença percetível nas pessoas que sofrem dela. Assim sendo, qualquer acontecimento grave da vida pode desencadear uma depressão, incluindo:

  • Conflitos profissionais e/ou privados que se prolongam
  • Fadiga a longo prazo
  • Doença física grave
  • Experiências de perda como separação, divórcio ou a morte de um ente querido
  • Desenraizamento
  • Êxodo
  • Perda do emprego
  • Eventos traumáticos na infância (abuso físico e/ou sexual)

A depressão pode também ter causas físicas. Nesses casos, fala-se de uma depressão orgânica. Por exemplo, um deficit de hormonas tiroideias pode levar a um estado de depressão. E um tumor no lobo frontal faz com que seja exercida pressão sobre as estruturas localizadas na parte frontal do cérebro, que têm como função regular o humor. Embora, até hoje, as causas e os desencadeadores da depressão não tenham sido totalmente explorados, sabe-se que a atividade cerebral numa pessoa depressiva é diferente em comparação com uma pessoa que não sofra de depressão. Na depressão, verifica-se uma mudança na função das células nervosas em certas regiões do cérebro, bem como mudanças de atividade a nível dos neurotransmissores serotonina e noradrenalina. Os neurotransmissores são as chamadas substâncias transmissoras no cérebro, substâncias essas que transmitem informações entre as células nervosas. Resumindo e concluindo, no caso de uma depressão, o equilíbrio de substâncias sinalizadoras no cérebro apresenta um défice. Além disso, o risco da doença aumenta quando os parentes de sangue sofrem ou sofreram de depressão.

Diferença entre depressão e mau humor

Conflitos no trabalho, tensões num relacionamento, uma separação, brigas, problemas financeiros, um acidente ou a perda de um ente querido podem causar a qualquer um de nós um estado de espírito depressivo. Exaustão, inquietação interior, tristeza, depressão e falta de alegria são sensações normais. Todas as pessoas já tiveram reações desse tipo, algumas com mais frequência do que outras. O mau humor, no entanto, deve ser distinguido da depressão no sentido médico e está frequentemente associado a um evento traumático e/ou a uma fase de muito stress - com o passar da sobrecarga e da dor, o ânimo geralmente levanta.

Definição de depressão

De acordo com a CID-10 (10.ª edição da International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems, português Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) os critérios de inclusão para um episódio depressivo são atendidos se, pelo menos, dois dos três sintomas seguintes persistirem por, pelo menos, duas semanas:
Mau humor, a um nível claramente incomum para a pessoa afetada, a maior parte do dia, quase todos os dias, e em grande parte não influenciado pelas circunstâncias Perda de interesse ou prazer em atividades que geralmente eram agradáveis * Diminuição da energia ou fadiga rápida

Além disso, deve estar presente, pelo menos um, dos seguintes sintomas:
Perda de autoconfiança e autoestima
Autocensuras infundadas ou pronunciadas, sentimentos de culpa inadequados
Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio
Reduzida capacidade de pensar ou se concentrar, indecisão ou hesitação
Agitação patológica psicomotora ou inibições
Distúrbios do sono de todos os tipos
* Perda de apetite ou aumento do apetite com correspondente mudança de peso

A transição do mau humor para um episódio depressivo patológico é sentida pela maioria das pessoas como ténue. No entanto, um médico experiente consegue fazer uma distinção.

Classificação e formas de depressão

A depressão é dividida em três níveis de gravidade:

  • Depressão leve: Existem, pelo menos, três dos sintomas apresentados acima, dois deles da primeira categoria (mau humor, perda de interesse ou prazer, diminuição da energia). O paciente sente-se doente e procura ajuda médica, mas, apesar da perda de desempenho, consegue cumprir todos os deveres profissionais e privados, desde que se trate de um trabalho de rotina.
  • Depressão moderada: Existem, pelo menos, seis dos sintomas apresentados acima, dois deles da primeira categoria. Os deveres profissionais ou privados já não podem ou só podem ser cumpridos parcialmente.
  • Depressão grave: Existem pelo menos oito dos sintomas apresentados acima, incluindo todos os três da primeira categoria. Num episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos, o paciente necessita de cuidados constantes. Num episódio depressivo com sintomas psicóticos ocorrem, entre outros, pensamentos ilusórios, sentimentos absurdos de culpa e/ou preocupações com doenças.

Além disso, é feita uma distinção entre diferentes formas de depressão. Dependendo da gravidade, causas e sintomas que ocorrem, a depressão é dividida em:

  • Depressão unipolar: A depressão unipolar é a forma mais comum de depressão. Começa muito lentamente, as pessoas afetadas apresentam sintomas apenas após alguns dias, semanas ou meses. Em muitos casos, estes desaparecem por conta própria novamente.
  • Depressão bipolar: Humor alternadamente perturbado (depressivo) e eufórico
  • Depressão na gravidez: De acordo com a definição, a depressão na gravidez pode ocorrer no período que vai desde a conceção até o primeiro aniversário do bebé. As mulheres que anteriormente sofreram de alguma forma de depressão correm um risco maior de serem afetadas pela depressão na gravidez.
  • Depressão em função da estação: A depressão sazonal é menos comum do que outras formas de depressão. Esta, tal como o nome indica, depende de uma determinada estação (por exemplo, depressão de inverno)

Dependendo da evolução da doença e do sucesso do tratamento, cada depressão é subdividida num episódio depressivo (pode ocorrer uma vez ou repetidamente) ou em depressão crónica (se os sintomas persistirem por mais de dois anos). Quando se verifica um restabelecimento da saúde, fala-se de uma remissão. Um estado no qual os sintomas melhoram significativamente, mas não desaparecem completamente, é designado de remissão incompleta.

Depressão de inverno

A depressão de inverno ocorre na época fria e escura do ano. Afeta as mulheres quatro vezes mais do que os homens e verifica-se principalmente em países escandinavos e da Europa Central. Nos países do sul, a depressão de inverno é pouco propagada. O desencadeador para a depressão de inverno é a falta de luz natural, assim como a diminuição da intensidade da luz no inverno e a queda das temperaturas. O corpo reage à falta de luz com uma libertação aumentada de melatonina, uma hormona que, entre outros, é responsável pelo ritmo do sono. Como resultado, o cansaço verifica-se mais facilmente e o humor baixa. Os sintomas típicos da depressão de inverno são um aumento da necessidade de sono, cansaço matinal, apatia, falta de energia, desequilíbrio e mau humor. Dado que em caso de uma depressão de inverno, o cérebro também tem falta de serotonina (hormona envolvido na regulação do sono, temperatura corporal, desejo sexual e estado de espírito), as pessoas que sofrem de depressão de inverno também têm um desejo maior por doces, pois o açúcar ajuda o cérebro a compensar novamente o défice de serotonina.

Diagnóstico de uma depressão

Muitas pessoas não vão ao médico ou escondem os seus sintomas devido a sentimentos errados de vergonha. Uma consulta médica pode ajudar a determinar as possíveis causas das mudanças de humor e começar com um tratamento adequado. O diagnóstico é feito por um médico de família formado ou pelo psiquiatra e baseia-se, sobretudo, numa conversa aprofundada entre médico-paciente. Em alguns casos, é também analisada uma amostra de sangue num laboratório e feita uma tomografia computadorizada (TC) para identificar ou descartar alterações físicas, como deficiência de vitamina B12, alterações hormonais ou baixos níveis de açúcar no sangue como causa da depressão.

Tratamento da depressão

Com base na conversa médico-paciente e nos resultados do exame, é criado um plano de tratamento adequado. A depressão pode ser tratada com fármacos e como parte de uma psicoterapia. Em muitos casos, uma combinação de ambas as terapias demonstra ser particularmente eficaz. É importante perceber que o tratamento requer paciência - uma depressão não desaparece, mesmo com os cuidados ideais, do dia para a noite

Antidepressivos

Medicamentos prescritos para o tratamento da depressão são chamados de antidepressivos. Os antidepressivos atuam, interferindo nos diferentes sistemas neurotransmissores no cérebro e compensam a falta de neurotransmissores. Existem vários antidepressivos diferentes - os preparados modernos de hoje em dia atuam muito mais objetivamente do que os antidepressivos mais antigos (por exemplo, os chamados antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos) e têm menos efeitos colaterais. Os medicamentos atualmente usados para o tratamento da depressão são, entre outros, inibidores seletivos da recaptação da serotonina (bloqueio no cérebro de qualquer molécula que transporte a serotonina de volta para a sua memória), inibidores da serotonina e noradrenalina (que inibem o transporte de volta para o cérebro de serotonina e noradrenalina) e inibidores da recaptação de noradrenalina (inibição do transporte de volta para as células nervosas do cérebro de norepinefrina e dopamina). Entre os ingredientes ativos dos antidepressivos modernos incluem-se, entre outros, citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, duloxetina, milnaciprano, venlafaxina, bupropiona e reboxetina. Dependendo do antidepressivo, pode demorar em média entre oito dias e três semanas até se verificar uma melhoria de humor. Se o tratamento à base de medicamentos não produzir o efeito desejado, o médico fará um ajuste da dose ou usará outro antidepressivo para tratar a depressão.

Psicoterapia

Embora os medicamentos possam ajudar a compensar a falta de neurotransmissores no cérebro, eles não são capazes de mudar a vida dos afetados do nada. Como parte de uma psicoterapia, as pessoas com depressão podem aprender a lidar melhor com os conflitos (internos) e emoções, a processar separações de forma mais consciente e resolver os conflitos sociais. Quando as causas para a depressão pós-parto são desconhecidas, as conversas com o psicoterapeuta ajudam a determinar as mesmas. Existem muitos tipos diferentes de psicoterapia. Numa terapia psicodinâmica, por exemplo, são trabalhados passo a passo juntamente com o terapeuta problemas profundamente enraizados que têm a sua origem na infância. Num psicoterapeuta comportamental, o psicoterapeuta ajuda os seus pacientes a desenvolver novas estratégias comportamentais e a descartar comportamentos e padrões de pensamento negativos. Uma boa relação entre psicoterapeuta e paciente é particularmente importante para uma psicoterapia bem-sucedida. Uma relação honesta de confiança é absolutamente necessária para abordar todos os problemas na terapia. Além da terapia à base de medicamentos e da psicoterapia, existem outras opções de tratamento, incluindo a estimulação magnética, terapia de exercício, a eletroconvulsivoterapia, e terapia de luz. Esta última é frequentemente utilizada para tratar a depressão de inverno. O paciente está sentado em frente a um aparelho de luz com seis ou oito lâmpadas fluorescentes, que transmite a luz fluorescente (sem conteúdo ultravioleta). Na sua intensidade, a luz emitida corresponde à luz de um dia luminoso de primavera e afeta positivamente certas estruturas no cérebro. A duração diária recomendada de terapia de luz é entre meia hora e quatro horas. O recurso a essa e a outras medidas deve ser sempre precedido por uma consulta médica.

O que nós mesmos podemos fazer em caso de uma depressão

  • Movimento: desporto/ou passeios ao ar livre têm um efeito muito positivo sobre o estado de espírito.
  • Nutrição: uma dieta saudável e equilibrada afeta não só a saúde física de forma positiva, mas pode também ter um efeito favorável sobre o humor.
  • Sociedade: Aqueles que organizam ativamente seu tempo livre, passam tempo com a família e amigos e não se recolhem, fazem algo de bom por eles mesmos.
  • Experimentar coisas novas: Existem muitas maneiras de cuidar do espírito, por ex. massagens, yoga, sauna ou outro programa de bem-estar que promova relaxamento e ajude a reduzir o stress.
  • Permanecer coerente: Os antidepressivos não devem ser colocados de lado assim que o humor melhorar. Visitas regulares ao médico e sessões de terapia são importantes para o sucesso terapêutico de longa duração.

Fontes
Ass.-Prof. Dr. Brigitte Schmid-Siegel, Departamento de Psiquiatria Social, Hospital Universitário de Psiquiatria e Psicoterapia, Universidade de Medicina de Viena; Depressão pós-parto, Spectrum Psychiatry 03/2015, Editora MedMedia e Mediaservice GmbH

Univ.-Prof. DDr. Hans-Peter Kapfhammer, Departamento de Psiquiatria, Universidade de Medicina de Graz; "Depressão orgânica" versus depressão comorbidade em doenças somáticas, neuro Supplementum 03/2015, Sociedade Austríaca de Neurologia

Prof. Dr. Dr. Dr. H. C mult. Florian Holsboer, CEO da HMNC GmbH, Munique; Depressão: terapia personalizada, Clinicum Neuropsy 06/2014, Medizin Medien Austria GmbH

Univ.-Prof. DDr. Gabriele Sachs, Hospital Universitário de psiquiatria e psicoterapia, Viena; Cognição em depressão, Clinicum Neuropsy 04/2014, Medizin Medien Austria GmbH

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), CID-10, Versão 2013, Organização Mundial da Saúde

O. Univ.-Prof. Dr. H. C mult. Dr. Siegfried Kasper, Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia, Viena; Depressão unipolar, Clinicum Neuropsy 05/2011, Medizin Medien Austria GmbH


Autor: Katharina Miedzinska, MSc